Duda Machado: A Vida e a Poesia do Poeta Tropicalista em Belo Horizonte
Desde o final da década de 1990, Duda Machado, tradicional poeta e letrista, vive em Belo Horizonte. Com uma carreira que começou ao lado de ícones da música brasileira, como Jards Macalé e Gal Costa, Duda atualmente desfruta de uma vida serena, repleta de poesia e reflexão. Ele mora no Centro-Sul da capital mineira com Ana Helena, sua esposa e tradutora, com quem compartilha um cotidiano tranquilo cercado de livros.
A história de Duda começou em Salvador, em 1944, onde faz parte do famoso movimento tropicalista. Quando se mudou para o Rio de Janeiro, buscava transferir-se para a faculdade de Ciências Sociais, mas o destino o levou a conhecer Macalé, um amigo que se tornaria um parceiro criativo ao longo de sua trajetória. Eles se encontraram por meio de Jota, um talentoso desenhista que teve um papel importante em sua vida e que também apresentou Duda ao mundo da música.
Duda e Macalé colaboraram em diversos trabalhos. Em 1969, durante um período conturbado da ditadura militar no Brasil, eles dirigiram um show para Gal Costa, combinando elementos cênicos e musicais, e acabaram por compor músicas marcantes para o LP “Legal”.
Seus versos, muitas vezes fragmentados, refletem um olhar atento às nuances da vida. Duda descreve como era surpreendente ver as letras que ele escrevia ganharem vida através da interpretação única de Macalé. A música “Doente, Morena”, interpretada por Elis Regina, trouxe à tona lembranças de um período desafiador da vida do poeta, retratando solidão e um anseio por liberdade.
Outra de suas composições, “Hotel das Estrelas”, expressa a perspectiva de uma mulher que observa a cidade pela janela. Duda contou que essa letra, embora viva, remete a um tempo de repressão, capturando a dualidade entre a beleza da natureza e a escuridão da realidade social.
A letra de “Só Morto”, com imagens sombrias, também reflete a atmosfera pesada da época. Duda expôs nesses versos as tensões e as angústias vividas durante os anos de censura, mesclando a luminosidade da natureza brasileira com o clima sombrio da repressão.
A relação de Duda com a música começou a se esgotar no final dos anos 1970, quando ele passou a dedicar-se mais à poesia. Sua última letra de música foi “Meu Doce Amor”, gravada por Gal Costa em seu álbum “Caras & Bocas”. A transição de letrista para poeta consolidou-se nos livros que Duda publicou ao longo dos anos. Seu primeiro, “Zil”, foi publicado em 1977, seguido por “Um Outro” em 1989, apresentando um estilo mais lírico e reflexivo.
Após longos períodos entre publicações, Duda lançou a antologia “Poesia 1969-2021”, que reúne sua produção ao longo de cinco décadas. Ele descreve a si mesmo como um escritor que produz pouco, mas expressa o desejo de criar sempre que possível. Com uma carreira marcada por parcerias criativas e um ambiente cultural rico, ele ainda guarda boas memórias dos tempos em que conviveu com artistas notáveis como Gal e Caetano Veloso.
Embora tenha se afastado da música e das antigas parcerias ao longo do tempo, Duda continua a escrever e a explorar novas inspirações. Adaptado à vida em Belo Horizonte, onde encontrou um ambiente cultural vibrante, ele diz que sua poesia é reflexo de suas vivências e experiências. Com 81 anos, Duda se mostra eternamente curioso, buscando sempre novas descobertas na arte da poesia.