Após anos morando em cidades como Lisboa, Nova York, Chengdu e Paris, o artista Eduardo Fonseca retornou a Belo Horizonte em 2024, motivado pelo nascimento de sua primeira filha. Esse retorno o fez perceber que a capital mineira havia mudado bastante desde que ele deixou a cidade. Essa nova visão inspirou sua exposição “Volta funda”, que está em cartaz na Casa Fiat de Cultura.
Eduardo Fonseca comenta que, ao voltar, notou um movimento de renovação na cidade com eventos novos e festivais surgindo em vários bairros. Ele começou a refletir sobre essa transformação, a sua própria mudança e a forma como Belo Horizonte se revalorizava.
A exposição conta com pinturas e esculturas criadas ao longo de 2025, que retratam cartões-postais de Belo Horizonte, como o Edifício Acaiaca, a Praça Sete, o Mercado Novo, a Praça da Liberdade, a Pampulha, o Viaduto Santa Tereza e a Praça Raul Soares. Ao todo, são oito obras que utilizam técnicas como pintura em acrílico e aplicação de folhas de ouro, além de esculturas e objetos. A mostra poderá ser visitada até 25 de janeiro na Piccola Galeria da Casa Fiat, que também abriga uma exposição de gravuras originais de Rembrandt.
O primeiro projeto de Eduardo foi uma obra que representava o Acaiaca, seguido pela pintura da Praça Sete, onde pássaros circulam em torno do famoso Pirulito. Essa criação coincidiu com a abertura de um edital que selecionou sua proposta. A partir daí, o artista começou a aprofundar sua pesquisa sobre as transformações da cidade, que tiveram início exatamente no ano em que ele deixou Belo Horizonte, com a criação da Praia da Estação e a renovação do carnaval de rua, entre outras iniciativas.
Eduardo observa que durante muito tempo, havia a ideia de que o interessante vinha de fora de Belo Horizonte. No entanto, hoje, é possível encontrar no Mercado Novo lojas que vendem souvenirs de capivaras e outros itens que valorizam a cultura local.
Nascido em Ponte Nova, Eduardo Fonseca formou-se em pintura pela Escola de Belas Artes da UFMG e completou um mestrado na Universidade de Lisboa em 2013. Suas obras frequentemente incluem animais como gatos, cães, capivaras, jacarés e pássaros, que servem como mediadores para explorar comportamentos sociais. Ele explica que sua escolha por retratar esses animais não tem apenas uma pauta ecológica, mas sim um desejo de observar a interação humana através deles.
A Praça Sete é representada com pardais que refletem o movimento do centro da cidade. Para Eduardo, essas aves ajudam a entender a essência da praça, que é marcada pelo fluxo constante de pessoas. O obelisco na praça, que quase passa despercebido, reforça essa ideia.
Nas obras, como uma pintura que mostra um cachorro urinando em um semáforo na esquina da Rua Gonçalves Dias com a Avenida João Pinheiro — o primeiro semáforo da cidade —, Eduardo provoca uma reflexão sobre a ordem imposta na cidade desde o final do século 19. Segundo o artista, essa imagem lembra que sempre existem pessoas dispostas a desafiar as imposições urbanas.
Exposição “Volta funda”
A mostra de Eduardo Fonseca está aberta ao público até 25 de janeiro, na Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10, Funcionários). A entrada é gratuita, e a visitação pode ser feita de terça a sexta-feira, das 10h às 21h, e aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h.