O ex-presidente Jair Bolsonaro, de 70 anos, não é amplamente reconhecido por sua habilidade política ou inteligência extraordinária. Durante suas três décadas como deputado, foi visto como um membro do “baixo clero”, ou seja, um parlamentar sem grandes projetos. No entanto, é considerado astuto e habilidoso em manobras políticas improvisadas.
Recentemente, Bolsonaro apontou seu filho Flávio, de 44 anos, senador pelo PL do Rio de Janeiro, como seu sucessor na disputa presidencial de 2026. Essa indicação ocorreu após sua inelegibilidade, declarada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até 2030. Desde então, vários candidatos disputaram a preferência de Bolsonaro para a vaga presidencial. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, de 50 anos, foi um dos principais concorrentes, mas sua candidatura enfrentou desafios.
Em março, a candidatura de Tarcísio começou a ser criticada por Eduardo, outro filho de Bolsonaro e deputado federal. Eduardo acusou Tarcísio de fazer alianças com políticos do Centrão e empresários sem realmente se comprometer com as ideologias do bolsonarismo, como uma proposta de anistia para aqueles acusados de tentativas de golpe.
Em 25 de novembro, Bolsonaro começou a cumprir uma pena de 27 anos de prisão, resultante de sua participação nos eventos que levaram às depredações no Palácio do Planalto, no Congresso e no Supremo Tribunal Federal em janeiro de 2023. Além dele, 36 ex-ministros e altos funcionários do governo também foram implicados em tentativas de golpe. Desde então, a família Bolsonaro tem discutido quem será o candidato em 2026, e a escolha de Flávio foi uma maneira de consolidar o controle familiar sobre o movimento.
A articulação para que Flávio fosse indicado já havia começado em outubro, quando ele foi enviado aos Estados Unidos para se reunir com Eduardo, que estava fazendo lobby junto ao governo americano. Durante essa reunião, abordaram a política brasileira e a relação entre Lula e Donald Trump.
Flávio e Eduardo reconhecem que vencer Lula nas eleições sem um acordo com o Centrão e empresários é uma missão difícil. Eles acreditam que reviver o discurso que elegeu Bolsonaro em 2018 poderá atrair votos. Mesmo que não consigam ganhar, acreditam que o movimento bolsonarista permanecerá sob seu controle.
A indicação de Flávio gerou reações imediatas no mercado financeiro, resultando em uma queda na bolsa e aumento na cotação do dólar. Isso é interpretado como uma sinalização negativa das expectativas do mercado em relação ao candidato escolhido.
Os próximos dias prometem trazer listas de possíveis candidatos a vice de Flávio. O cenário é complexo, pois Tarcísio pode optar por se lançar ao cargo de presidente, o que complicaria sua relação com Flávio. A desconfiança é um traço marcante de Bolsonaro, e é provável que Flávio escolha um vice que não ofusque sua imagem.
Esta será a primeira eleição após o julgamento e condenação de Bolsonaro e outras pessoas envolvidas em atentados à democracia brasileira. O passado recente é relevante, pois muitos se lembram de tempos em que a imprensa era censurada pelo regime militar. Hoje, com o sistema democrático mais fortalecido, houve uma resposta judicial aos ataques contra ele, algo que não era comum em décadas passadas.