O vereador Lucas Ganem, do partido Podemos, não compareceu à cerimônia de entrega do Grande Colar do Mérito Legislativo, ocorrida na última terça-feira, 9 de outubro, na Câmara Municipal de Belo Horizonte. O evento contou com a presença do presidente da Câmara, Juliano Lopes, e da deputada federal Nely Aquino, ambos do Podemos, além do secretário de Estado de Governo, Marcelo Aro, que foi o grupo político que ajudou Ganem a ser eleito em 2024.
Lucas Ganem tinha indicado o deputado federal Bruno Ganem, seu primo, como homenageado na cerimônia, mas Bruno também não esteve presente. As diferenças entre Lucas e a chamada “Família Aro” têm sido notáveis desde o final do ano passado, após as eleições.
O contexto dessas divergências ganhou novos contornos na última sexta-feira, 5 de outubro, quando a direção nacional do Podemos decidiu dissolver os diretórios do partido em Belo Horizonte e em Minas Gerais. A deputada Nely Aquino liderava o Podemos mineiro, e em Belo Horizonte, a direção era ocupada pelo empresário Rony Rinco, seu marido.
Ainda na quinta-feira, 4 de outubro, o presidente da Câmara, Juliano Lopes, presidiu a sessão em que foi aprovado o início da análise do processo de cassação de Lucas Ganem, com 39 votos favoráveis. Em uma atitude de resistência, o vereador orientou sua equipe a não receber a notificação oficial da Câmara sobre a denúncia que poderá levar à sua cassação.
Com a ausência de Lucas Ganem na cerimônia, os outros 40 vereadores da capital realizaram homenagens a diversas lideranças, instituições e entidades da sociedade civil. Entre os agraciados estavam o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, a deputada estadual Chiara Biondini, a atriz e fundadora do Grupo Galpão, Teuda Bara, e o fundador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile.
A situação de Lucas Ganem e a abertura do processo de cassação têm origens que remontam antes de sua posse, em outubro de 2024. Naquela época, foi revelado que ele residia em São Paulo e não tinha domicílio fixo em Belo Horizonte, o que levou o primeiro suplente da chapa do Podemos, Rubem Rodrigues de Oliveira Júnior, a protocolar uma denúncia no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais. Um inquérito da Polícia Federal também foi anexado ao processo em andamento. A notícia se intensificou após a esposa do proprietário da residência que Ganem citou como endereço em BH afirmar nunca tê-lo visto lá.
Além dos problemas relacionados ao domicílio, em 1º de janeiro de 2025, Ganem desafiou a orientação do seu partido ao votar em um candidato adversário para a presidência da Câmara, em vez de apoiar Juliano Lopes, que acabou vencendo a eleição.
Desde então, Ganem tem enfrentado um isolamento nas decisões da Câmara. Ele expressou insatisfação por não ter conseguido que nenhum de seus projetos de lei fosse discutido e, até novembro, havia participado de 47% das sessões plenárias, totalizando 45 de 93 encontros.
Recentemente, Ganem foi perguntado publicamente sobre as denúncias contra ele, mas fez um apelo para que os colegas aguardassem a determinação da Justiça antes de prosseguirem com o processo de cassação. No entanto, essa estratégia não obteve sucesso; no dia 1º de dezembro, Juliano Lopes acolheu uma denúncia que originou o processo de cassação do vereador.