A novela “Mico Preto”, que ficou esquecida por 35 anos no acervo da Globo, será disponibilizada no Globoplay a partir da próxima segunda-feira, dia 22. A trama foi considerada ousada e abordou temas polêmicos para a época, mas não alcançou o sucesso esperado.
Marcílio Moraes, um dos autores da novela, lembrou em entrevista que escreveu a obra em 1990 em parceria com Euclydes Marinho e Leonor Bassères. Ele destacou que, apesar de “Mico Preto” ter uma história interessante e engraçada, a novela enfrentou várias dificuldades na época de sua exibição.
Segundo Moraes, a audiência foi razoável, mas a trama sofreu críticas pesadas. Muitos atores reclamaram sobre seus papéis e a situação nos bastidores se complicou. Ele acredita que houve sabotagem interna e conflitos de poder nas esferas da alta direção da emissora, o que dificultou ainda mais o andamento da produção. “Não estava preparado para lidar com a inexperiência e as lutas internas”, afirmou.
A novela, dirigida por Dennis Carvalho, conta a história da empresária Áurea Menezes Garcia, que desaparece, levando a uma disputa entre seus herdeiros. O personagem Firmino, interpretado por Luís Gustavo, é um homem honesto que acaba assumindo os negócios da família.
Miguel Falabella, um dos atores do elenco, chegou a classificar “Mico Preto” como “a novela mais alucinada da televisão brasileira”, mencionando que muito do que ia ao ar era improvisado. Louise Cardoso, também participante da trama, recordou que o trabalho foi desafiador, especialmente em capítulos avançados, quando já estava exausta.
As dificuldades internas levaram a um descontrole no roteiro e, de acordo com Moraes, ele acabou “afrouxando” a condução da história devido à irritação. “Os atores começaram a improvisar e até o diretor entrou nessa”, contou.
Marcílio Moraes, que trabalhou em sucessos como “Roque Santeiro” e “Roda de Fogo”, não escreve novelas desde “Ribeirão do Tempo” em 2010 e também colaborou em séries. Hoje, aos 81 anos, ele se dedica a projetos no teatro e audiovisual, incluindo a criação de uma nova produtora.
Ele expressou seu descontentamento com “Mico Preto”, afirmando que, se tivesse agido de outra forma, o resultado poderia ter sido diferente. Moraes acredita que a novela abordou questões relevantes para a época, como homossexualidade e corrupção, mas o reconhecimento da obra foi limitado, já que nunca foi reprisada.
Moraes está atualmente envolvido na produção de uma peça teatral e um documentário, com o objetivo de oferecer produções audiovisuais de qualidade. Ele acredita que sua experiência de 40 anos na televisão é valiosa e deve ser utilizada na nova fase de sua carreira.