Bianca Comparato: A Atuação em Temas Ousados e Desafiadores
A atriz Bianca Comparato é conhecida por sua disposição em atuar em projetos ousados e arriscados. Um exemplo disso foi sua escolha de protagonizar a minissérie “A Menina sem Qualidades” em 2013, de Felipe Hirsh, na antiga MTV. Na época, Bianca já desfrutava de sucesso na televisão como Betânia, uma das personagens de “Avenida Brasil”, mas decidiu explorar novas fronteiras. “O risco me atrai”, afirma.
Nos últimos anos, Bianca apostou em um gênero pouco explorado na televisão brasileira: a ficção científica. Ela integrou o elenco de “3%”, a primeira série totalmente nacional do Netflix, que gerou ceticismo entre amigos. “Diziam que fazer sci-fi brasileiro nunca daria certo. Mas acreditei na proposta.”
Atualmente, Bianca se destaca na série “Tremembé”, disponível no Amazon Prime Video. A produção tem chamado a atenção ao retratar a vida de criminosos notórios no presídio de Tremembé, interior de São Paulo. Bianca interpreta Anna Carolina Jatobá, condenada pelo assassinato da enteada Isabella Nardoni, um caso amplamente repercutido no país.
A atriz reconhece que o tema é “difícil e polêmico”, mas decidiu se envolver no projeto devido à confiança que tem na equipe criativa, especialmente na diretora Vera Egito. “Queria muito trabalhar com ela. Isso me ofereceria uma oportunidade interessante como artista”, diz Bianca em uma conversa em um restaurante na avenida Paulista.
Para compreender sua personagem, Bianca assistiu a uma entrevista de Anna e Alexandre Nardoni ao programa Fantástico, de 2008, um dos poucos registros visuais disponíveis. Ela percebeu que Anna parecia ocultar algo, o que a levou a desenvolver a personagem com essa tensão. “A ideia era trabalhar a dúvida, algo intrigante para o espectador e para mim”, explica.
A atriz também se preocupou em não romantizar a história, que retrata eventos reais e trágicos. “Compreendi que todas as pessoas têm um lado humano, mesmo em ações monstruosas”, ressalta. Ela acredita que a complexidade dos personagens dificultou a romantização, mostrando diferentes facetas da condição humana.
Bianca é defensora do tom pop da série, que foi criticado por sua abordagem que poderia ser vista como sensacionalista. Ela menciona os livros do jornalista Ullisses Campbell, que serviram de base para “Tremembé”, destacando que a série não é um drama, mas uma reflexão sobre a vida no sistema prisional. “O que acontece dentro do presídio parece uma novela, mas a vida ali é uma mistura de humor e tragédia”, comenta.
Além de atuar, Bianca também tem se aventurado na produção. Sua empresa, a South, foca em contar histórias do Sul global. Para o próximo ano, a produtora trabalhará em “Crocodila”, uma nova produção da cineasta Gabriela Amaral, que fala sobre uma mulher que se transforma em um crocodilo. Para ela, entender o funcionamento do setor a ajudou a crescer como atriz.
Filha do roteirista e dramaturgo Doc Comparato, Bianca começou sua trajetória artística nas sessões de cinema em casa. Ela relembra que assistia a filmes clássicos com o pai desde cedo, aprendendo sobre arte e vida. Seu interesse pelas artes cênicas se consolidou durante aulas de teatro na escola britânica no Rio de Janeiro, onde se destacou e conseguiu estudar na Royal Academy of Arts, em Londres.
Após retornar do exterior, Bianca teve a oportunidade de atuar em “O Ateneu”, uma montagem dirigida por Leonardo Brício, e desde então nunca mais parou. Em 2024, ela voltará aos palcos em um solo baseado na obra “Autobiografia do Vermelho”, de Anne Carson, com direção de Daniela Thomas.
Agora, prestes a completar 40 anos, Bianca reflete sobre sua vida pessoal. Ela imaginava estar casada e com filhos nesta fase, mas compartilha que está satisfeita com sua atual independência. Após longos relacionamentos, incluindo uma união de sete anos com a atriz Alice Braga, ela valoriza seu espaço pessoal e o crescimento de sua carreira. “A vida pode ser linda assim”, finaliza, ressaltando que está em um momento de maturidade tanto pessoal quanto profissional.