Crítica ao Filme “Sonhar com Leões”
“Sonhar com Leões” é o primeiro longa-metragem do cineasta Paolo Marinou-Blanco, que mistura influências de suas origens em Nova York, Roma e Lisboa. A protagonista, interpretada por Denise Fraga, aborda o tema delicado da eutanásia, explorando os dilemas de uma mulher chamada Gilda, que luta contra um câncer em estágio avançado.
O filme retrata Gilda como uma personagem apaixonada pela vida, mas que se vê diante de uma escolha extrema: terminar com seus sofrimentos de forma antecipada. Cansada de lidar com tratamentos médicos e promessas de cura que nunca se concretizam, Gilda decide que não quer mais esperar pela morte, que se aproxima cada vez mais. Para ela, a escolha de como e quando morrer é um direito que ela quer reivindicar.
A narrativa é ambientada em Portugal e propõe uma discussão que ainda é um tabu em muitos lugares, inclusive no Brasil. A eutanásia é um tema debatido em várias partes da Europa, com países como a Suíça permitindo sua prática de forma legal e assistida, enquanto no Brasil, o assunto provoca reações diversas e intensas.
Gilda, em sua busca por controle sobre sua vida, encontra uma empresa que oferece orientação para pessoas em situações semelhantes. Essa descoberta a leva a conhecer Amadeu, personagem que também enfrenta sua própria batalha interna. Juntos, eles tentam encontrar maneiras de lidar com suas dores e questionamentos sobre a vida e a morte. A relação entre os dois personagens evolui, trazendo à tona temas de solidariedade e busca por compreensão em momentos de desespero.
O tom do filme, ao contrário de outras obras que tratam o tema com um olhar mais sombrio, traz uma abordagem de comédia irônica. Isso gera certa polêmica, especialmente entre aqueles que consideram o assunto muito sério para ser tratado dessa maneira. As reações do público e a crítica refletem a complexidade do tema e as diferentes percepções sobre o suicídio assistido e a eutanásia.
“Sonhar com Leões”, exibido no 53º Festival de Gramado, provoca discussões necessárias sobre a vida e a morte, sobre a dor e a liberdade de escolha, e o faz atravessando um caminho que mistura humor e tragédia. A jornada de Gilda se transforma não apenas em uma despedida, mas também em uma descoberta sobre o valor da vida, mesmo diante das dificuldades. O filme se destaca por sua capacidade de abrir um diálogo sobre temas muitas vezes evitados, convidando os espectadores a refletirem sobre o que significa viver plenamente.
Conclusão
Enquanto o filme provoca controvérsia e debate, ele também serve como um convite à reflexão sobre a eutanásia e sobre a forma como lidamos com o fim da vida. A obra consegue, através do humor e da acidez, discutir questões profundas e humanas, sendo um dos destaques da temporada cinematográfica.